Depois do almoço eu e as meninas levantámos a mesa e fomos novamente para a cozinha, arrumar as coisas. Os rapazes ajudaram a levantar a mesa, e depois foram novamente para o jardim, jogar às cartas. A Maddie estava a dormir no sofá, e o Brown andava á nossa volta, a tentar apanhar os restos da carne. Ah, já me esquecia da Mara, que continuava a passear pelo jardim com o seu biquíni quase inexistente.
- O raio da rapariga parece que saiu da Maxmen. – Disse a Marisa.
-O que é que se passa convosco hoje? Tomaram uma dose de insegurança? A miúda é um palito.
-Palito ou não, está ali a exibir-se ao pé do meu marido e isso não me agrada nada. – Disse a Tixa.
Olhámos as 4 pela janela da cozinha que dava para o jardim, e á nossa frente estava o Rafa a despir a T-shirt. Enquanto as raparigas se fixavam na Mara e se certificavam que os outros não olhavam para ela, eu não consegui tirar os olhos do Rafael… Encontrava-se agora de calções, com o seu corpo moreno e bem trabalhado ali á minha frente. As tatuagens, que era algo que me era desconhecido, ainda lhe davam um toque mais espectacular. ‘’Rita…?! Acorda! Ele é passado… Ele é passado…’’ – Pensei.
-Meninas, sabem que mais? – Disse-lhes. – Podemos ficar aqui o dia todo a olhar para ela, ou podemos vestir os biquínis e ir para ali fazer-lhe concorrência, o que acham?
-Eláá! Assim é que é. Bora lá! – Disse a Di.
-Têm razão, vamos.
-Aish. Agora é que eu me lembrei, eu não trouxe o meu. – Lembrei-me.
-Isso não é problema, o que não falta no armário são biquínis. – Disse-me a Tixa. – Vai lá ao quarto e escolhe.
-Eu já tenho o meu vestido. – Disse a Marisa
-Eu também. – Concordou a Di.
-Então vão indo, eu já lá vou ter. – Disse-lhes.
As meninas despiram as roupas e foram para o jardim, enquanto eu fui ao quarto vestir um biquíni da Tixa. Escolhi um Branco, e desci. Quando cheguei ao jardim estava a Tixa ao colo do Rui, o Rafa a falar com eles, a Marisa na piscina na brincadeira com o Nando, a Di fazer uma competição de mergulhos com o meu irmão, e a Mara numa das espreguiçadeiras a trabalhar para o bronze. Passei pelo Rafa que me olhou de cima a baixo, e dei um mergulho na piscina. Tentei não pensar nele, mas nem a água me arrefeceu, pois o seu corpo não me saía da cabeça. Saí da piscina, e sentei-me numa das espreguiçadeiras a pôr creme nas pernas. Não consegui evitar olhar para ele, e percebi que ele também me fixava. Olhávamos nos fixamente, como se não estivesse ali mais ninguém. O Rui chamava-o e ele só ouviu quando este lhe deu um grito, o que me fez rir. Eu já não sabia o que fazer para não olhar para ele, e por isso calcei as havaianas e saí do jardim. Subi as escadas e fui á casa de banho, onde permaneci em frente ao espelho a culpar-me pelos meus pensamentos. Baixei a cabeça para lavar a cara, e quando me endireitei e encarei o espelho estava lá o Rafa, atrás de mim, o que me fez pular de susto.
-Rafa! Ai… Queres-me matar de susto? – Perguntei e virei-me, ficando de frente para ele.
-Desculpa. – Sorriu, pegou na toalha e percorreu o meu rosto, secando-o. Seguindo para o pescoço, o peito…
-O que… O que é que estás a fazer? Eu sei-me secar sozinha, Rafael.
-Voltaste ao Rafael? Chama-me Rafa, Rita… Sempre chamaste.
-As coisas já não são como eram.
-Tu estás ainda mais bonita, sabias?
-A tua noiva está lá em baixo, porque é que não lhe dizes isso?
-Tens razão, é melhor. – Disse, pousando a toalha no lavatório e dirigindo-se à porta.
-Rafa…! – Chamei. – Espera… Desculpa. Eu odeio estar chateada contigo.
-Continua… - Disse, voltando atrás com um sorriso no rosto.
-Desculpa por ontem…
-Eu também peço desculpa. – Colocou-me o cabelo atrás da orelha, e deu-me um beijo no rosto.
-Tu também…
-Também o quê?
-Também estás ainda mais bonito, se é que isso é possível.
Olhámo-nos nos olhos durante segundos, e ele puxou-me para si, abraçando-me. Retribuí o abraço, e pousei a cabeça no seu ombro, dando-lhe leves beijos junto ao pescoço, enquanto ele mexia no meu cabelo. O calor do seu corpo colado ao meu deixava-me cada vez mais nervosa. As suas mãos quentes percorriam as minhas costas e preparavam-se para desatar o laço…
‘’Alguém sabe onde está o Rafael?!’’ Ouvimos a voz da Mara do jardim.
-Acho que é para ti. – Disse-lhe.
-É… Acho que sim. – Respirou fundo, deu-me um beijo na testa e saiu da casa de banho sem olhar para trás.
‘’Ahh! Estás aqui!’’ Ouvi-a, e já estava a imaginá-la a agarrá-lo…A beijá-lo… Só de pensar que ele poderia estar a beijá-la naquele momento… Bati com a cabeça levemente na porta, e depois de uns segundos ganhei coragem para voltar para o jardim. Assim o fiz, e tal como havia imaginado, a Mara estava em cima do Rafa, numa espreguiçadeira. Tentei não olhar, e sentei-me á mesa com o Rui, a Tixa, e a Di, que estavam a jogar póquer.
-Amor, vai ver a menina, ela se calhar já acordou. – Disse a Tixa ao Rui.
-Não deve ter acordado, senão já andava aqui a passear.
-Vai lá amor… - Dá lhe um beijo no canto da boca.
-Estou a ir, minha chata.
Assim que o Rui saiu da mesa, a Tixa e a Di aproximaram-se de mim.
-Ok, agora vais-nos esclarecer. Algo me diz que o teu desaparecimento, e o do Rafa ao mesmo tempo não pode ser coincidência. – Disse a Tixa.
-Vocês estiveram a falar? – Perguntou a Di.
-Estivemos… Tivemos uma conversa de amigos, e pedimos desculpa pela discussão de ontem.
-Ainda Bem, o ambiente estava de cortar á faca. – Disse a Tixa.
-E foi só uma conversa de amigos? – Perguntou a Di. – É que ele ainda não parou de olhar para ti.
-Vocês parem de dizer essas coisas, porque a noiva dele está ali, e se ela ouve ainda lhe arranjamos problemas.
-Eu estou só a constatar um facto. Ele olha para ti como nunca olhou para ela.
-A pulguinha ainda está a dormir, eu fui deitá-la no quarto. – Disse o Rui quando voltou. – Já podemos ir para a sala, vamos ver um filme.
-Por mim, pode ser. – Disse a Di.
-Sim, por mim também. – Concordei.
-Então vamos dizer-lhes. – Disse a Tixa. – Pessoal, querem ir ver um filme?
-Bora. – Disse o Rafa, afastando a Mara que estava em cima dele, para se poder levantar.
Todos os outros concordaram, e fomos todos para a sala. Distribuímo-nos pelos sofás, e alguns ficaram no chão.
-Eu vou fazer pipocas. – Disse a Tixa.
-Eu ajudo. – Disse, e quando estava a passar pelo Rafa, que estava sentado no chão, este esticou o pé e eu ia caindo.
-Não caias! – Disse-me, com ar provocador.
-Estúpido pá. – Peguei numa almofada e mandei-lhe á cara. Ele respondeu-me com um sorriso e eu segui atrás da Tixa.
-Vocês parecem dois adolescentes apaixonados amiga.- Disse-me a Tixa, na cozinha, a rir-se.
-Não comeces. – Disse-lhe com uma careta. – Estas são doces?
-São, mete essas no microondas.
Preparámos as pipocas e fomos ver o filme. Ou pelo menos tentámos, uma vez que o Rafa e o Rui se divertiam a manda-las cada vez que apanhavam uma boca aberta. O Rafa conseguiu acertar na boca do Ricardo que estava a bocejar, e o Rui na da Marisa que se estava a rir.
-Amor! Fogo, tenho o cabelo cheio de pipocas. – Disse a Mara.
-Desculpa princesa. – Respondeu-lhe o Rafa, ainda a rir-se com o Rui.
-Vocês parecem dois putos. O Ricardo tem menos 10 anos que vocês e está mais sossegado. – Disse a Marisa.
-Eu só não participo porque já sei que não consigo acertar. – Disse o meu irmão a rir-se também com eles.
-É assim mesmo! Choca aí, primo. – Disse o Rafa, estendendo a mão.
-Por mim podem continuar, vão é apanhar as pipocas todas, nem que passem aqui a noite. – Disse a Tixa.
-Elá… Vamos passar a noite a apanhar pipocas Ruizinho. O sonho de uma vida. – Disse o Rafa com uma voz fininha, a piscar o olho e mandar beijinhos ao Rui. O Rui entrou na brincadeira e já nos estávamos todos a rir com as suas figuras.
Passou-se assim o serão, entre risadas e parvoíces. Acabou por ficar tarde e preparámo-nos para ir embora. Arrumámos tudo, e o trabalho de apanhar as pipocas não foi assim tão difícil uma vez que o Brown já se tinha divertido a pescá-las. Despedimo-nos e caminhámos para os respectivos carros. O Rui, com a Maddie ao colo já acordada, foi com a Tixa para a carrinha, o Nando foi na sua mota, a Marisa levou a Di no seu carro, o Rafa levou a namorada, e eu fui com o Ricardo e o Brown no carro do meu pai.
Depois de um longo caminho na conversa com o meu irmão, chegámos a casa e eu fui ajudar a minha mãe com o jantar.
-Ricardo, anda meter a mesa. – Mandou a minha mãe.
-Que seca. – Respondeu ao entrar na cozinha.
-Deixa de ser preguiçoso. Então como foi lá o surf? Quem ganhou?
-Foi bué fixe!!! – Disse entusiasmado. – Mas o Rafa como caiu ficou em terceiro lugar.
-Caiu? E aleijou-se?
-Não, acho que foi só uma cena qualquer no dedo.
-Uma ruptura de ligamentos. – Corrigi.
-Ele está ali em casa? Se calhar é melhor ir lá ver se ele precisa de alguma coisa.
-Não, acho que não é preciso. Mas posso contar ou não? – Disse o Ricardo.
-Vá, conta lá.
Começou a falar da prova de surf, e continuou durante todo o jantar. Na verdade já todos estávamos fartos de ouvir, mas toda a gente se fingiu de muito interessada. Depois do jantar e de arrumar a cozinha, vesti um leve casaco e fui despejar o lixo. Dei a volta ao prédio, e depois de por o saco num dos caixotes, reparei que estava o Rafa mais á frente, a mexer na mota.
-Buhh. – Disse, quando cheguei por detrás dele.
-Ui. A senhora é assustadora á brava. – Disse.
-Andas a mexer na tua menina?
-Numa delas, sim. – Disse, parando por um segundo de mexer na mota e olhando-me nos olhos, com um sorriso.
-Oh…Uau… Estás tão limpinho. Já viste essas mãos?
-Quais? Estas? – Disse, levantando as mãos e aproximando-se de mim.
-Rafa… - Disse, dando passos para trás. – RAFA! NÃO!
Este esfregou as suas mãos nas minhas bochechas, e preparava-se para me sujar toda, se eu não lhe agarrasse as mãos. Originou-se ali uma mini luta de braços, em que ele tentava alcançar o meu rosto.
-Ahhhhh... Ahhh…. – Começou a queixar-se e eu larguei-lhe as mãos imediatamente.
-Que foi? – Perguntei preocupada – Aleijei-te no dedo? Rafa?
Este permaneceu calado, de cabeça baixa e agarrado à mão, e eu baixei-me, aflita, com medo de o ter aleijado.
-Rafa? Então? Foi o dedo?
De repente, ele endireitou-se, envolveu o seu braço na minha cintura e puxou-me contra si, sem me dar hipótese de me mover, e com a outra mão, espalhava óleo pela minha cara, pescoço, e tudo o que ele alcançava.
-Tu és tão totó. – Disse, rindo-se á gargalhada.
-E tu és tão estupido! PÁRAA! – Respondi-lhe à medida que tentava fugir da sua mão completamente preta, e ia soltando também risos, no meio de insultos.
-Vá, vou-te largar. Queres que eu te largue? – Disse, ainda agarrando me com força.
-SIM!
-De certeza?
-Rafa, eu vou te bater!!
-Assim não te largo. – Disse, rindo-se. Porém, depois de ver a minha cara que exprimia fúria, largou-me e afastou-se rapidamente para que eu não me vingasse.
-Olha para mim! – Disse, olhando para a minha figura. – Já viste o que fizeste?
-Uma obra de arte. – Gozou.
-Que parvo… Como é que eu vou entrar em casa assim Rafael?!
-Há uma banheira na minha casa. – Continuou com o seu olhar provocador.
-Sim, claro. É já a seguir.
-Eu compreendo que tenhas medo, porque sabes que não consegues resistir-me.
-Ah ah ah! Deixa-me rir. És tão modesto. Será que tu não mudaste nem um bocadinho?!
-Claro que mudei. Eu até te mostrava no quê, mas é melhor não.
-O qu…?! PARVO! – Dei-lhe um empurrão.
-Agora a sério, podes tirar isso lá a casa, se a tia te vê a entrar assim vai começar a fazer perguntas.
-Ah, e achas que ela não faz se me vir a entrar de cabelo molhado?!
-É para isso que existem os secadores oh pré-histórica.
-E quando chegar digo que apanhei trânsito para os caixotes, daí ter demorado duas horas!
-Anda lá e cala-te. Eu aproveito e tomo também.
-HÃÃ?! – Perguntei, indignada.
-Na outra casa de banho! Achas mesmo que eu ia tomar banho contigo? Estava a pôr em risco a minha segurança. – Disse, á medida que abria a porta do prédio.
-Ainda bem que sabes! – Respondi-lhe, rindo-me.
Subimos até ao 2ºandar, e entrámos em sua casa.