segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Capítulo 41 - Desculpa.


Depois do almoço eu e as meninas levantámos a mesa e fomos novamente para a cozinha, arrumar as coisas. Os rapazes ajudaram a levantar a mesa, e depois foram novamente para o jardim, jogar às cartas. A Maddie estava a dormir no sofá, e o Brown andava á nossa volta, a tentar apanhar os restos da carne. Ah, já me esquecia da Mara, que continuava a passear pelo jardim com o seu biquíni quase inexistente.

- O raio da rapariga parece que saiu da Maxmen. – Disse a Marisa.

-O que é que se passa convosco hoje? Tomaram uma dose de insegurança? A miúda é um palito.

-Palito ou não, está ali a exibir-se ao pé do meu marido e isso não me agrada nada. – Disse a Tixa.

Olhámos as 4 pela janela da cozinha que dava para o jardim, e á nossa frente estava o Rafa a despir a T-shirt. Enquanto as raparigas se fixavam na Mara e se certificavam que os outros não olhavam para ela, eu não consegui tirar os olhos do Rafael… Encontrava-se agora de calções, com o seu corpo moreno e bem trabalhado ali á minha frente. As tatuagens, que era algo que me era desconhecido, ainda lhe davam um toque mais espectacular. ‘’Rita…?! Acorda! Ele é passado… Ele é passado…’’ – Pensei.

-Meninas, sabem que mais? – Disse-lhes. – Podemos ficar aqui o dia todo a olhar para ela, ou podemos vestir os biquínis e ir para ali fazer-lhe concorrência, o que acham?

-Eláá! Assim é que é. Bora lá! – Disse a Di.

-Têm razão, vamos.

-Aish. Agora é que eu me lembrei, eu não trouxe o meu. – Lembrei-me.

-Isso não é problema, o que não falta no armário são biquínis. – Disse-me a Tixa. – Vai lá ao quarto e escolhe.

-Eu já tenho o meu vestido. – Disse a Marisa

-Eu também. – Concordou a Di.

-Então vão indo, eu já lá vou ter. – Disse-lhes.

As meninas despiram as roupas e foram para o jardim, enquanto eu fui ao quarto vestir um biquíni da Tixa. Escolhi um Branco, e desci. Quando cheguei ao jardim estava a Tixa ao colo do Rui, o Rafa a falar com eles, a Marisa na piscina na brincadeira com o Nando, a Di fazer uma competição de mergulhos com o meu irmão, e a Mara numa das espreguiçadeiras a trabalhar para o bronze. Passei pelo Rafa que me olhou de cima a baixo, e dei um mergulho na piscina. Tentei não pensar nele, mas nem a água me arrefeceu, pois o seu corpo não me saía da cabeça. Saí da piscina, e sentei-me numa das espreguiçadeiras a pôr creme nas pernas. Não consegui evitar olhar para ele, e percebi que ele também me fixava. Olhávamos nos fixamente, como se não estivesse ali mais ninguém. O Rui chamava-o e ele só ouviu quando este lhe deu um grito, o que me fez rir. Eu já não sabia o que fazer para não olhar para ele, e por isso calcei as havaianas e saí do jardim. Subi as escadas e fui á casa de banho, onde permaneci em frente ao espelho a culpar-me pelos meus pensamentos. Baixei a cabeça para lavar a cara, e quando me endireitei e encarei o espelho estava lá o Rafa, atrás de mim, o que me fez pular de susto.

-Rafa! Ai… Queres-me matar de susto? – Perguntei e virei-me, ficando de frente para ele. 

-Desculpa. – Sorriu, pegou na toalha e percorreu o meu rosto, secando-o. Seguindo para o pescoço, o peito…

-O que… O que é que estás a fazer? Eu sei-me secar sozinha, Rafael.

-Voltaste ao Rafael? Chama-me Rafa, Rita… Sempre chamaste.

-As coisas já não são como eram.

-Tu estás ainda mais bonita, sabias?

-A tua noiva está lá em baixo, porque é que não lhe dizes isso?

-Tens razão, é melhor. – Disse, pousando a toalha no lavatório e dirigindo-se à porta.

-Rafa…! – Chamei. – Espera… Desculpa. Eu odeio estar chateada contigo.

-Continua… - Disse, voltando atrás com um sorriso no rosto.

-
Desculpa por ontem… 

-Eu também peço desculpa. – Colocou-me o cabelo atrás da orelha, e deu-me um beijo no rosto.

-Tu também…

-Também o quê?

-Também estás ainda mais bonito, se é que isso é possível.

Olhámo-nos nos olhos durante segundos, e ele puxou-me para si, abraçando-me. Retribuí o abraço, e pousei a cabeça no seu ombro, dando-lhe leves beijos junto ao pescoço, enquanto ele mexia no meu cabelo. O calor do seu corpo colado ao meu deixava-me cada vez mais nervosa. As suas mãos quentes percorriam as minhas costas e preparavam-se para desatar o laço…

‘’Alguém sabe onde está o Rafael?!’’ Ouvimos a voz da Mara do jardim.

-Acho que é para ti. – Disse-lhe.

-É… Acho que sim. – Respirou fundo, deu-me um beijo na testa e saiu da casa de banho sem olhar para trás.

‘’Ahh! Estás aqui!’’ Ouvi-a, e já estava a imaginá-la a agarrá-lo…A beijá-lo… Só de pensar que ele poderia estar a beijá-la naquele momento… Bati com a cabeça levemente na porta, e depois de uns segundos ganhei coragem para voltar para o jardim. Assim o fiz, e tal como havia imaginado, a Mara estava em cima do Rafa, numa espreguiçadeira. Tentei não olhar, e sentei-me á mesa com o Rui, a Tixa, e a Di, que estavam a jogar póquer.

-Amor, vai ver a menina, ela se calhar já acordou. – Disse a Tixa ao Rui.

-Não deve ter acordado, senão já andava aqui a passear.

-Vai lá amor… - Dá lhe um beijo no canto da boca.

-Estou a ir, minha chata.

Assim que o Rui saiu da mesa, a Tixa e a Di aproximaram-se de mim.

-Ok, agora vais-nos esclarecer. Algo me diz que o teu desaparecimento, e o do Rafa ao mesmo tempo não pode ser coincidência. – Disse a Tixa.

-Vocês estiveram a falar? – Perguntou a Di.

-Estivemos… Tivemos uma conversa de amigos, e pedimos desculpa pela discussão de ontem.

-Ainda Bem, o ambiente estava de cortar á faca. – Disse a Tixa.

-E foi só uma conversa de amigos? – Perguntou a Di. – É que ele ainda não parou de olhar para ti.

-Vocês parem de dizer essas coisas, porque a noiva dele está ali, e se ela ouve ainda lhe arranjamos problemas.

-Eu estou só a constatar um facto. Ele olha para ti como nunca olhou para ela.

-A pulguinha ainda está a dormir, eu fui deitá-la no quarto. – Disse o Rui quando voltou. – Já podemos ir para a sala, vamos ver um filme.

-Por mim, pode ser. – Disse a Di.

-Sim, por mim também. – Concordei.

-Então vamos dizer-lhes. – Disse a Tixa. – Pessoal, querem ir ver um filme?

-Bora. – Disse o Rafa, afastando a Mara que estava em cima dele, para se poder levantar.

Todos os outros concordaram, e fomos todos para a sala. Distribuímo-nos pelos sofás, e alguns ficaram no chão.

-Eu vou fazer pipocas. – Disse a Tixa.

-Eu ajudo. – Disse, e quando estava a passar pelo Rafa, que estava sentado no chão, este esticou o pé e eu ia caindo.

-Não caias! – Disse-me, com ar provocador.

-Estúpido pá. – Peguei numa almofada e mandei-lhe á cara. Ele respondeu-me com um sorriso e eu segui atrás da Tixa.

-Vocês parecem dois adolescentes apaixonados amiga.- Disse-me a Tixa, na cozinha, a rir-se.

-
Não comeces. – Disse-lhe com uma careta. – Estas são doces?

-São, mete essas no microondas.

Preparámos as pipocas e fomos ver o filme. Ou pelo menos tentámos, uma vez que o Rafa e o Rui se divertiam a manda-las cada vez que apanhavam uma boca aberta. O Rafa conseguiu acertar na boca do Ricardo que estava a bocejar, e o Rui na da Marisa que se estava a rir.

-Amor! Fogo, tenho o cabelo cheio de pipocas. – Disse a Mara.

-Desculpa princesa. – Respondeu-lhe o Rafa, ainda a rir-se com o Rui.

-Vocês parecem dois putos. O Ricardo tem menos 10 anos que vocês e está mais sossegado. – Disse a Marisa.

-Eu só não participo porque já sei que não consigo acertar. – Disse o meu irmão a rir-se também com eles.

-É assim mesmo! Choca aí, primo. – Disse o Rafa, estendendo a mão.

-Por mim podem continuar, vão é apanhar as pipocas todas, nem que passem aqui a noite. – Disse a Tixa.

-
Elá… Vamos passar a noite a apanhar pipocas Ruizinho. O sonho de uma vida. – Disse o Rafa com uma voz fininha, a piscar o olho e mandar beijinhos ao Rui. O Rui entrou na brincadeira e já nos estávamos todos a rir com as suas figuras.


Passou-se assim o serão, entre risadas e parvoíces. Acabou por ficar tarde e preparámo-nos para ir embora. Arrumámos tudo, e o trabalho de apanhar as pipocas não foi assim tão difícil uma vez que o Brown já se tinha divertido a pescá-las. Despedimo-nos e caminhámos para os respectivos carros. O Rui, com a Maddie ao colo já acordada, foi com a Tixa para a carrinha, o Nando foi na sua mota, a Marisa levou a Di no seu carro, o Rafa levou a namorada, e eu fui com o Ricardo e o Brown no carro do meu pai.
 
Depois de um longo caminho na conversa com o meu irmão, chegámos a casa e eu fui ajudar a minha mãe com o jantar.

-
Ricardo, anda meter a mesa. – Mandou a minha mãe.

-
Que seca. – Respondeu ao entrar na cozinha.

-
Deixa de ser preguiçoso. Então como foi lá o surf? Quem ganhou?

-
Foi bué fixe!!! – Disse entusiasmado. – Mas o Rafa como caiu ficou em terceiro lugar.

-Caiu? E aleijou-se?

-Não, acho que foi só uma cena qualquer no dedo. 

-Uma ruptura de ligamentos. – Corrigi.

-Ele está ali em casa? Se calhar é melhor ir lá ver se ele precisa de alguma coisa.

-Não, acho que não é preciso. Mas posso contar ou não? – Disse o Ricardo.

-Vá, conta lá.

Começou a falar da prova de surf, e continuou durante todo o jantar. Na verdade já todos estávamos fartos de ouvir, mas toda a gente se fingiu de muito interessada. Depois do jantar e de arrumar a cozinha, vesti um leve casaco e fui despejar o lixo. Dei a volta ao prédio, e depois de por o saco num dos caixotes, reparei que estava o Rafa mais á frente, a mexer na mota.

-
Buhh. – Disse, quando cheguei por detrás dele.

-Ui. A senhora é assustadora á brava. – Disse.

-Andas a mexer na tua menina?

-Numa delas, sim. – Disse, parando por um segundo de mexer na mota e olhando-me nos olhos, com um sorriso.

-Oh…Uau… Estás tão limpinho. Já viste essas mãos?

-
Quais? Estas? – Disse, levantando as mãos e aproximando-se de mim.

-
Rafa… - Disse, dando passos para trás. – RAFA! NÃO!

Este esfregou as suas mãos nas minhas bochechas, e preparava-se para me sujar toda, se eu não lhe agarrasse as mãos. Originou-se ali uma mini luta de braços, em que ele tentava alcançar o meu rosto.

-Ahhhhh... Ahhh…. – Começou a queixar-se e eu larguei-lhe as mãos imediatamente.

-Que foi? – Perguntei preocupada – Aleijei-te no dedo? Rafa?

Este permaneceu calado, de cabeça baixa e agarrado à mão, e eu baixei-me, aflita, com medo de o ter aleijado.

-Rafa? Então? Foi o dedo?

De repente, ele endireitou-se, envolveu o seu braço na minha cintura e puxou-me contra si, sem me dar hipótese de me mover, e com a outra mão, espalhava óleo pela minha cara, pescoço, e tudo o que ele alcançava.  

-
Tu és tão totó. – Disse, rindo-se á gargalhada.

-
E tu és tão estupido! PÁRAA! – Respondi-lhe à medida que tentava fugir da sua mão completamente preta, e ia soltando também risos, no meio de insultos.

-Vá, vou-te largar. Queres que eu te largue? – Disse, ainda agarrando me com força.

-SIM!

-De certeza?

-Rafa, eu vou te bater!!

-
Assim não te largo. – Disse, rindo-se. Porém, depois de ver a minha cara que exprimia fúria, largou-me e afastou-se rapidamente para que eu não me vingasse.

-
Olha para mim! – Disse, olhando para a minha figura. – Já viste o que fizeste?

-Uma obra de arte. – Gozou.

-
Que parvo… Como é que eu vou entrar em casa assim Rafael?!

-Há uma banheira na minha casa. – Continuou com o seu olhar provocador.

-Sim, claro. É já a seguir.

-Eu compreendo que tenhas medo, porque sabes que não consegues resistir-me.

-Ah ah ah! Deixa-me rir. És tão modesto. Será que tu não mudaste nem um bocadinho?!

-Claro que mudei. Eu até te mostrava no quê, mas é melhor não.

-O qu…?! PARVO! – Dei-lhe um empurrão.

-Agora a sério, podes tirar isso lá a casa, se a tia te vê a entrar assim vai começar a fazer perguntas.

-Ah, e achas que ela não faz se me vir a entrar de cabelo molhado?!

-É para isso que existem os secadores oh pré-histórica.

-
E quando chegar digo que apanhei trânsito para os caixotes, daí ter demorado duas horas!  

-Anda lá e cala-te. Eu aproveito e tomo também.

-HÃÃ?! – Perguntei, indignada.

-Na outra casa de banho! Achas mesmo que eu ia tomar banho contigo? Estava a pôr em risco a minha segurança. – Disse, á medida que abria a porta do prédio.

-Ainda bem que sabes! – Respondi-lhe, rindo-me.

Subimos até ao 2ºandar, e entrámos em sua casa.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Capítulo 40 - É tão óbvio…

09/07/2017, Domingo.

Acordei com uma enorme dor de cabeça, e dirigi-me à cozinha. Depois de dar a ração ao Brown, comecei a preparar o pequeno-almoço.

-
Bom dia. – Diz o meu irmão ao entrar.

-Bom dia.

-Que cara é essa?

-
Dói-me a cabeça.

-Andaste a beber ou foi da discussão que tiveste com o Rafa ontem à noite?

-Não sei do que é que estás a falar. – Disse, tentando passar despercebida.

-Eu ouvi-te a gritar. Nem sei como é que não acordaste os pais.

-Ricardo, tu não lhes contes nada, ouviste?

-Não conta o quê? – Pergunta o meu pai ao entrar na cozinha.

-Ela não quer que eu conte que o cão dormiu em cima do sofá esta noite. Ups, acabei de contar. – Disfarçou.

-Desde que não tenha pulgas, e ande lavadinho.

-Não te preocupes pai, ele anda sempre limpinho.

-A vossa mãe?

-Não está no quarto? – Perguntei-lhe.

- Não, pensava que estava aqui.

-Ela deve ter ido comprar pão para o pequeno-almoço.

-Rita, o teu telemóvel não está a tocar? – Avisou-me o meu pai.

-Está? Vou lá ver. – Saí da cozinha e caminhei para o meu quarto.

-
Esta rapariga veio surda que nem uma porta. – Disse o meu irmão na cozinha.

-Eu ouvi isso! – Gritei.  

-Só ouve o que lhe interessa! – Gozou o meu irmão.

-Estou? – Atendi.

-Bom dia! – Diz a Marisa.

-Bom dia… - Respondi.

-Credo! Que voz morta é essa?

-
Estou com dores de cabeça. Mas está tudo bem, já passa.

-Hmm… Essa eu não compro. Olha, vai-te mas é vestir, que eu vou buscar-te para irmos á final do campeonato de surf.

-Ahh… Mas eu não estava com muita vontade de ir. Acho que vou ficar por aqui, aproveito e dou mais uma vista de olhos na internet e nos anúncios de emprego.

-O quê?! Nem penses! Vamos todos. O Nando vai estar lá… E o Rafael! Não vais apoiá-lo?

-Não… Espero que ele ganhe, e tem lá a noiva para o apoiar.

-Então..? Mas as meninas disseram que o vosso reencontro tinha corrido bem… Eu pensei que estivessem bem um com o outro.

-E estávamos. Mas sinceramente, não estou com cabeça para falar nele. Vão vocês, a sério. Eu vou ficar por aqui, tenho muita coisa para tratar.

-De certeza? Mas o que é que se passou? Isso não é só dor de cabeça…

-Pois não.

-Discutiram?

-Sim.

-Porquê?

-Por causa do que aconteceu… Ele ainda me veio dizer que a culpa foi minha porque me fui embora!

-Sabes o que isso significa, não sabes?

-Que nunca nos vamos entender.

-Não! Muito pelo contrário… Se discutiram é porque o que havia entre vocês não está acabado.

-Hã?! Que raio de lógica é essa?

-Rita, se vocês discutiram sobre o passado é porque ele não está enterrado. Se estão magoados, é porque o sentimento continua aí. E sinceramente, eu já calculava que isto fosse acontecer.

-Marisca, tu estás a fazer filmes. Ele está noivo, e eu tenho namorado. E a minha história com ele já acabou há muito tempo. Tu sabes que eu amo o Jake!

-Claro que sei. Mas também sei que nunca esqueceste o Rafael, e não vale a pena negares, eu vivi contigo estes seis anos.

-Ele é meu primo, só isso. Então e tu? Hoje vais reencontrar o Nando… Estás preparada?

-Pois, muda de assunto. Sinceramente, acho que vou ter um ataque. Tantos anos a falar pelo telemóvel, pela net, que vai ser muito estranho.

-Quando é que vocês admitem que se apaixonaram?

-Ele transformou-se num dos meus melhores amigos, eu contava lhe todas as nossas historias, as minhas relações, e ele as dele, e sempre nos apoiámos.

-Agora quem é que tá a mudar de assunto? Não respondeste à minha pergunta.

-Eu não sei… Isto é tudo tão estranho. Eu só sei que quero muito vê-lo.

-E vais ver, hoje. Boa sorte!

-De certeza que não queres vir?

-Sim.

-Então vá, se precisares de alguma coisa liga.

-Ok, beijinhos.

-Beijinhos.

-Rita, não vens comer? – Pergunta o meu irmão.

-Sim, bora. – Pousei o telemóvel na secretaria e caminhamos os dois para a cozinha. Quando lá chegámos, estavam os meus pais sentados à mesa.

-Estás aqui mãe? – Perguntou o meu irmão.

-Não filho, estou lá fora. – Respondeu-lhe a minha mãe com um sorriso no rosto.

-Fogo, está aqui um filho preocupado e ela ainda goza comigo. – Perante a sua cara de amuado, já nos estávamos todos a rir.

-A mãe foi só ali abaixo à merceeira da Teresa, querias que eu fosse aonde?

-Oh. Sei lá. Vá, eu tenho que me despachar para ir ter com o Rafa. – Diz ao levantar-se.

-Com o teu primo? – Perguntou a minha mãe.

-Claro. Hoje é a final do campeonato de surf.

-Ele já foi, querido. Eu encontrei-me com ele lá em baixo, ia cheio de pressa.

-Não acredito que ele se esqueceu de mim! E agora? Aish oh pai… Leva-me, vá lá…

-Achas que eu posso? Eu vou já para o trabalho. Já estou atrasado, não vou agora para a Ericeira.

-Eu não conduzo filho, não olhes para mim. – Disse a minha mãe.

-Eu esperei meses por esta final… Eu tenho que ir. Rita? Tu conduzes não é?

-Sim, e…?

-Tu podes levar-me! O pai não vai de carro para o trabalho. Vá lá… Isto é mesmo importante.

-Ricardo, eu ainda agora disse à Marisa que não ia. E eu tenho muitas coisas para fazer.

-Fogo, vá lá… Não precisas de ficar lá. Eu depois venho com o Rafa. Eu só preciso que me leves… Por favor!!

-Tu és tão chato!! Pai, posso levar o teu carro? – Perguntei.

-YEEEEES! – Gritou o meu irmão já a ir preparar-se.

-Sim, estás á vontade. Bom, até logo. – Diz ao levantar-se. – Vou trabalhar, portem-se bem.

-Tchau, bom trabalho. – Disse-lhe. – Bom, eu vou-me vestir. Este puto só me arranja disto.

-Tem paciência, filha. Isto é mesmo importante para o teu irmão. – Disse-me a minha mãe. – Mas eu nem te estou a perceber. Tu sempre foste a primeira a querer ir para a praia, ainda mais para isso do surf. O que é que se passa?

-Não é nada, só não me apetecia ir. Mas pelos vistos o destino está contra mim.

-Credo rapariga. Vais, estás com os teus amigos, sempre é melhor do que estares aqui o dia todo.

-Eu aproveito e levo o meu menino para ir brincar na praia. – Baixei-me na direcção do Brown.

Fazes-me companhia não é lindo?

-Falas mais com o cão do que com a tua mãe. – Disse-me ela, amuada.

-Estás com ciúmes mãezinha? – Ri-me á medida que lhe dava um beijo no rosto.

-Estou. Vá, vai-te lá vestir de uma vez que o teu irmão tem um ataque não tarda.

Fui para o meu quarto, vesti uns calções, um top simples, e calcei umas havaianas. Quando acabei de me vestir já estava o meu irmão ansioso à minha espera. Despedimo-nos da minha mãe e saímos. Conduzi o carro do meu pai, e enquanto eu e o meu irmão conversávamos, o Brown mantinha-se com a cabeça de fora da janela. Depois de algum trânsito, chegámos á praia que estava cheia de gente.

-Já deve estar quase a começar. Vamos ter com o Rafa. – Disse o meu irmão, entusiasmado.

-Vai tu, eu vou beber um café. – Disse, quando na verdade era uma desculpa para não o encarar.

Coloquei a trela no Brown. Enquanto o meu irmão continuou em frente, eu entrei no café que havia á beira da praia. Sentei-me e encontrava-me perdida nos meus pensamentos quando ouvi uma voz familiar:

-Olhe desculpe, não são permitidos animais aqui.

Virei-me para trás e um sorriso invadiu o meu rosto.

-Nando..?! – Levantei-me e abracei-o. – Que saudades!

-Podes crer sua desnaturada. Tantos anos sem vires cá uma única vez. E o que é que estás aqui a fazer sozinha? Nós estamos todos ali nas arcadas. A Mariza tinha-me dito que não vinhas.

-E não vinha. Mas o senhor Ricardo insistiu para eu o trazer. Então mas fala-me de ti. Já viste a Mariza?

-Já. Está linda como sempre.

-Ohh… - Sorri. – Quando é que dás o primeiro passo? Já sabes que tens de ser tu, ela é demasiado teimosa.

-Eu sei, já tenho uma cena preparada. – Piscou-me o olho.

-A sério? Que máximo!

-Mas não lhe digas nada, senão estragas a surpresa.

-Achas? A minha boca é um túmulo.

-Olha, eu tenho que ir levar-lhes os sumos que elas pediram. Não vens?

-Sim, vou. – Levantei-me juntamente com o Brown e ajudei-o a levar os sumos.

-É o teu cão? – Perguntou.

-Sim.

-Eu também tenho um labrador. Uma cadela. Mas é mais clarinha.

-A sério? Para a próxima tens de a trazer. Tenho de arranjar uma namorada para o meu Brownnie.

-Hmm. Não sei. Tenho de avaliar este menino primeiro. – Rimo-nos.

-Está bem.

-Então mas conta lá novidades. O teu namorado, não veio? - Perguntou enquanto caminhávamos para a praia.

-Não, ele está a acabar o curso. Vem daqui a 2 meses.

-Já tens saudades, não?

-Sim… - Parei de falar quando chegámos às arcadas, onde estavam as meninas e a Maddie que saltou do colo da mãe quando viu o Brown.

-Vejam só quem andava perdida. – Disse-lhes o Nando á medida que lhes entregava os sumos.

-Então Miquelina? – A Di dirigiu-se a mim com um abraço. – Acho bem que tenhas vindo!

-
Pois, ainda bem que o teu irmão te convenceu já que eu não consegui. – Cumprimentou-me a Marisa. – Senta aí.

Sentei-me e peguei ao colo a Maddie, que estava a fazer festinhas ao Brown.

-Ainda falta muito para começar? – Perguntou o Nando.

-Não sei, mas o Rui e o Ricardo já vêm ali. – Disse a Tixa.

-Papá, o padrinho? – Perguntou a Madalena quando eles chegaram ao pé de nós.

-O padrinho está a preparar-se, vai começar agora.
– Respondeu-lhe o Rui. - ‘Tão Rita? Tás bem? – Eu acenei que sim.

Chegou a vez do Rafa e ele olhou para nós com um sorriso enquanto corria em direcção ao mar. A prova estava a correr bem, até que ele caiu numa das ondas e esteve algum tempo submerso. O meu coração quase saltou do peito naqueles segundos em que ele não aparecia. Levantei-me, aflita, mas fiquei mais calma quando o vi novamente em cima da prancha a dominar as ondas. A Tixa, que estava ao meu lado, lançou-me um olhar cúmplice quando me voltei a sentar.

-Oh… Meu…Deus… - Disse quase que a segredar, com um sorriso comprometedor.

-O que foi? – Perguntei também baixinho.

-Tu estás tão tramada… É tão óbvio que não o esqueceste Ana Rita…

-Hã? Pará com isso vá, vamos ver.

Ela riu-se discretamente e voltou a concentrar-se na prova. Quando esta acabou, o Rafa correu para a tenda dos participantes.

-Ele não veio ter connosco. Será que se magoou? – Perguntou a Di.

-Não sei, bora ter com ele. – Disse o Ricardo, e todos se levantaram. – Rita, não vens?

-Não… O Brown não pode entrar, eu fico aqui a ver o resto dos participantes.

-Sim, claro… O Brown… - Disse a Mariza. – Deve ser.

Fiz-lhe uma careta e voltei a concentrar-me no mar. Passou algum tempo e chegaram as meninas, com a Madalena que já estava cheia de saudades do meu cão.

-Então? Estava tudo bem? – Perguntei.

-Ele fez uma ruptura de ligamentos num dedo da mão esquerda, mas está tudo bem. – Respondeu a Mariza.

-Mas foi para o hospital? – Perguntei preocupada.  

-Não, o técnico disse que não era nada de grave, que recuperava sozinho. Só precisa de pôr gelo e uma pomada qualquer. – Disse a Di.

-E tu, sua orgulhosa, custava-te muito teres ido? – Perguntou a Tixa. – Olha que não o vais evitar para sempre, depois disto vamos todos almoçar ali a casa.

-Hã? Eu não posso, tenho de ir…

-Não tens nada. – Interrompeu-me a Tixa. – Vamos todos. Como tu estás sempre a dizer, ele é teu primo, por isso não podes fugir dele para sempre. Filha, larga o Brown! Coitadinho, deixa-o sossegado.

A Madalena estava literalmente montada no Brown, que era um autêntico boneco nas suas mãos. Chegaram ao pé de nós os rapazes, incluindo o Rafael, que vinha com a namorada a dar-lhe beijinhos, e mais beijinhos, e mais beijinhos… Não, eu não estava com ciúmes! Apenas… enjoada. Depois de ficarmos todos nas arcadas a ver as outras provas, a final acabou e anunciaram os vencedores. O Rafael não ficou em primeiro lugar como nos outros anos, mas sim em terceiro. O que não o deixou muito chateado, pois manteve-se descontraído como sempre.
De seguida, tal como a Tixa havia dito, fomos para a sua casa de férias, que era ali perto. Eu e as meninas estávamos a tratar do almoço na cozinha, os rapazes estavam junto á piscina a tratar dos grelhados, a Maddie na sala a fazer penteados e a pôr lacinhos ao Brown, e a Miss simpatia estava a aperfeiçoar o bronze e a mostrar-se junto á piscina.

-Ela precisa de andar assim ao pé do meu marido?! – Embirrou a Tixa ao olhar para o exterior.

Não tinha nenhum biquíni mais reduzido para vestir?!

Nós só nos ríamos, enquanto a Tixa não tirava os olhos do Rui para garantir que ele não olhava para a Mara.

-
Rita, olha o teu irmão! – Disse a Di a rir-se. – Parece entusiasmado.

-Hã?! Ele tem 13 anos!

-Duuh! Por isso mesmo! Olha-me aquelas hormonas a saltitar.

Voltámo-nos a rir ao ver a sua figura, e eu fui até á porta para o jardim.

-Ricardo! – Chamei. – Anda aqui dar uma ajudinha.

-Hãã?! Porquê?

-
Já! – Depois de ver a minha cara que tentava parecer má, veio, contrariado, para a cozinha.

-Então puto? Vá, não fiques chateado, aqui também tens miúdas giras para observar. – Disse a Di ao dar-lhe um leve empurrão.

-Hã? Eu não estava a…

-
Não te preocupes. – Interrompeu a Mariza. – Nós já tivemos a tua idade.

Ele acabou por se rir também, e começou as picardias do costume com a Di. Depois de muita conversa e muitas risadas, o almoço ficou pronto e fomos todos comer junto á piscina.