sábado, 10 de dezembro de 2011

Capítulo 40 - É tão óbvio…

09/07/2017, Domingo.

Acordei com uma enorme dor de cabeça, e dirigi-me à cozinha. Depois de dar a ração ao Brown, comecei a preparar o pequeno-almoço.

-
Bom dia. – Diz o meu irmão ao entrar.

-Bom dia.

-Que cara é essa?

-
Dói-me a cabeça.

-Andaste a beber ou foi da discussão que tiveste com o Rafa ontem à noite?

-Não sei do que é que estás a falar. – Disse, tentando passar despercebida.

-Eu ouvi-te a gritar. Nem sei como é que não acordaste os pais.

-Ricardo, tu não lhes contes nada, ouviste?

-Não conta o quê? – Pergunta o meu pai ao entrar na cozinha.

-Ela não quer que eu conte que o cão dormiu em cima do sofá esta noite. Ups, acabei de contar. – Disfarçou.

-Desde que não tenha pulgas, e ande lavadinho.

-Não te preocupes pai, ele anda sempre limpinho.

-A vossa mãe?

-Não está no quarto? – Perguntei-lhe.

- Não, pensava que estava aqui.

-Ela deve ter ido comprar pão para o pequeno-almoço.

-Rita, o teu telemóvel não está a tocar? – Avisou-me o meu pai.

-Está? Vou lá ver. – Saí da cozinha e caminhei para o meu quarto.

-
Esta rapariga veio surda que nem uma porta. – Disse o meu irmão na cozinha.

-Eu ouvi isso! – Gritei.  

-Só ouve o que lhe interessa! – Gozou o meu irmão.

-Estou? – Atendi.

-Bom dia! – Diz a Marisa.

-Bom dia… - Respondi.

-Credo! Que voz morta é essa?

-
Estou com dores de cabeça. Mas está tudo bem, já passa.

-Hmm… Essa eu não compro. Olha, vai-te mas é vestir, que eu vou buscar-te para irmos á final do campeonato de surf.

-Ahh… Mas eu não estava com muita vontade de ir. Acho que vou ficar por aqui, aproveito e dou mais uma vista de olhos na internet e nos anúncios de emprego.

-O quê?! Nem penses! Vamos todos. O Nando vai estar lá… E o Rafael! Não vais apoiá-lo?

-Não… Espero que ele ganhe, e tem lá a noiva para o apoiar.

-Então..? Mas as meninas disseram que o vosso reencontro tinha corrido bem… Eu pensei que estivessem bem um com o outro.

-E estávamos. Mas sinceramente, não estou com cabeça para falar nele. Vão vocês, a sério. Eu vou ficar por aqui, tenho muita coisa para tratar.

-De certeza? Mas o que é que se passou? Isso não é só dor de cabeça…

-Pois não.

-Discutiram?

-Sim.

-Porquê?

-Por causa do que aconteceu… Ele ainda me veio dizer que a culpa foi minha porque me fui embora!

-Sabes o que isso significa, não sabes?

-Que nunca nos vamos entender.

-Não! Muito pelo contrário… Se discutiram é porque o que havia entre vocês não está acabado.

-Hã?! Que raio de lógica é essa?

-Rita, se vocês discutiram sobre o passado é porque ele não está enterrado. Se estão magoados, é porque o sentimento continua aí. E sinceramente, eu já calculava que isto fosse acontecer.

-Marisca, tu estás a fazer filmes. Ele está noivo, e eu tenho namorado. E a minha história com ele já acabou há muito tempo. Tu sabes que eu amo o Jake!

-Claro que sei. Mas também sei que nunca esqueceste o Rafael, e não vale a pena negares, eu vivi contigo estes seis anos.

-Ele é meu primo, só isso. Então e tu? Hoje vais reencontrar o Nando… Estás preparada?

-Pois, muda de assunto. Sinceramente, acho que vou ter um ataque. Tantos anos a falar pelo telemóvel, pela net, que vai ser muito estranho.

-Quando é que vocês admitem que se apaixonaram?

-Ele transformou-se num dos meus melhores amigos, eu contava lhe todas as nossas historias, as minhas relações, e ele as dele, e sempre nos apoiámos.

-Agora quem é que tá a mudar de assunto? Não respondeste à minha pergunta.

-Eu não sei… Isto é tudo tão estranho. Eu só sei que quero muito vê-lo.

-E vais ver, hoje. Boa sorte!

-De certeza que não queres vir?

-Sim.

-Então vá, se precisares de alguma coisa liga.

-Ok, beijinhos.

-Beijinhos.

-Rita, não vens comer? – Pergunta o meu irmão.

-Sim, bora. – Pousei o telemóvel na secretaria e caminhamos os dois para a cozinha. Quando lá chegámos, estavam os meus pais sentados à mesa.

-Estás aqui mãe? – Perguntou o meu irmão.

-Não filho, estou lá fora. – Respondeu-lhe a minha mãe com um sorriso no rosto.

-Fogo, está aqui um filho preocupado e ela ainda goza comigo. – Perante a sua cara de amuado, já nos estávamos todos a rir.

-A mãe foi só ali abaixo à merceeira da Teresa, querias que eu fosse aonde?

-Oh. Sei lá. Vá, eu tenho que me despachar para ir ter com o Rafa. – Diz ao levantar-se.

-Com o teu primo? – Perguntou a minha mãe.

-Claro. Hoje é a final do campeonato de surf.

-Ele já foi, querido. Eu encontrei-me com ele lá em baixo, ia cheio de pressa.

-Não acredito que ele se esqueceu de mim! E agora? Aish oh pai… Leva-me, vá lá…

-Achas que eu posso? Eu vou já para o trabalho. Já estou atrasado, não vou agora para a Ericeira.

-Eu não conduzo filho, não olhes para mim. – Disse a minha mãe.

-Eu esperei meses por esta final… Eu tenho que ir. Rita? Tu conduzes não é?

-Sim, e…?

-Tu podes levar-me! O pai não vai de carro para o trabalho. Vá lá… Isto é mesmo importante.

-Ricardo, eu ainda agora disse à Marisa que não ia. E eu tenho muitas coisas para fazer.

-Fogo, vá lá… Não precisas de ficar lá. Eu depois venho com o Rafa. Eu só preciso que me leves… Por favor!!

-Tu és tão chato!! Pai, posso levar o teu carro? – Perguntei.

-YEEEEES! – Gritou o meu irmão já a ir preparar-se.

-Sim, estás á vontade. Bom, até logo. – Diz ao levantar-se. – Vou trabalhar, portem-se bem.

-Tchau, bom trabalho. – Disse-lhe. – Bom, eu vou-me vestir. Este puto só me arranja disto.

-Tem paciência, filha. Isto é mesmo importante para o teu irmão. – Disse-me a minha mãe. – Mas eu nem te estou a perceber. Tu sempre foste a primeira a querer ir para a praia, ainda mais para isso do surf. O que é que se passa?

-Não é nada, só não me apetecia ir. Mas pelos vistos o destino está contra mim.

-Credo rapariga. Vais, estás com os teus amigos, sempre é melhor do que estares aqui o dia todo.

-Eu aproveito e levo o meu menino para ir brincar na praia. – Baixei-me na direcção do Brown.

Fazes-me companhia não é lindo?

-Falas mais com o cão do que com a tua mãe. – Disse-me ela, amuada.

-Estás com ciúmes mãezinha? – Ri-me á medida que lhe dava um beijo no rosto.

-Estou. Vá, vai-te lá vestir de uma vez que o teu irmão tem um ataque não tarda.

Fui para o meu quarto, vesti uns calções, um top simples, e calcei umas havaianas. Quando acabei de me vestir já estava o meu irmão ansioso à minha espera. Despedimo-nos da minha mãe e saímos. Conduzi o carro do meu pai, e enquanto eu e o meu irmão conversávamos, o Brown mantinha-se com a cabeça de fora da janela. Depois de algum trânsito, chegámos á praia que estava cheia de gente.

-Já deve estar quase a começar. Vamos ter com o Rafa. – Disse o meu irmão, entusiasmado.

-Vai tu, eu vou beber um café. – Disse, quando na verdade era uma desculpa para não o encarar.

Coloquei a trela no Brown. Enquanto o meu irmão continuou em frente, eu entrei no café que havia á beira da praia. Sentei-me e encontrava-me perdida nos meus pensamentos quando ouvi uma voz familiar:

-Olhe desculpe, não são permitidos animais aqui.

Virei-me para trás e um sorriso invadiu o meu rosto.

-Nando..?! – Levantei-me e abracei-o. – Que saudades!

-Podes crer sua desnaturada. Tantos anos sem vires cá uma única vez. E o que é que estás aqui a fazer sozinha? Nós estamos todos ali nas arcadas. A Mariza tinha-me dito que não vinhas.

-E não vinha. Mas o senhor Ricardo insistiu para eu o trazer. Então mas fala-me de ti. Já viste a Mariza?

-Já. Está linda como sempre.

-Ohh… - Sorri. – Quando é que dás o primeiro passo? Já sabes que tens de ser tu, ela é demasiado teimosa.

-Eu sei, já tenho uma cena preparada. – Piscou-me o olho.

-A sério? Que máximo!

-Mas não lhe digas nada, senão estragas a surpresa.

-Achas? A minha boca é um túmulo.

-Olha, eu tenho que ir levar-lhes os sumos que elas pediram. Não vens?

-Sim, vou. – Levantei-me juntamente com o Brown e ajudei-o a levar os sumos.

-É o teu cão? – Perguntou.

-Sim.

-Eu também tenho um labrador. Uma cadela. Mas é mais clarinha.

-A sério? Para a próxima tens de a trazer. Tenho de arranjar uma namorada para o meu Brownnie.

-Hmm. Não sei. Tenho de avaliar este menino primeiro. – Rimo-nos.

-Está bem.

-Então mas conta lá novidades. O teu namorado, não veio? - Perguntou enquanto caminhávamos para a praia.

-Não, ele está a acabar o curso. Vem daqui a 2 meses.

-Já tens saudades, não?

-Sim… - Parei de falar quando chegámos às arcadas, onde estavam as meninas e a Maddie que saltou do colo da mãe quando viu o Brown.

-Vejam só quem andava perdida. – Disse-lhes o Nando á medida que lhes entregava os sumos.

-Então Miquelina? – A Di dirigiu-se a mim com um abraço. – Acho bem que tenhas vindo!

-
Pois, ainda bem que o teu irmão te convenceu já que eu não consegui. – Cumprimentou-me a Marisa. – Senta aí.

Sentei-me e peguei ao colo a Maddie, que estava a fazer festinhas ao Brown.

-Ainda falta muito para começar? – Perguntou o Nando.

-Não sei, mas o Rui e o Ricardo já vêm ali. – Disse a Tixa.

-Papá, o padrinho? – Perguntou a Madalena quando eles chegaram ao pé de nós.

-O padrinho está a preparar-se, vai começar agora.
– Respondeu-lhe o Rui. - ‘Tão Rita? Tás bem? – Eu acenei que sim.

Chegou a vez do Rafa e ele olhou para nós com um sorriso enquanto corria em direcção ao mar. A prova estava a correr bem, até que ele caiu numa das ondas e esteve algum tempo submerso. O meu coração quase saltou do peito naqueles segundos em que ele não aparecia. Levantei-me, aflita, mas fiquei mais calma quando o vi novamente em cima da prancha a dominar as ondas. A Tixa, que estava ao meu lado, lançou-me um olhar cúmplice quando me voltei a sentar.

-Oh… Meu…Deus… - Disse quase que a segredar, com um sorriso comprometedor.

-O que foi? – Perguntei também baixinho.

-Tu estás tão tramada… É tão óbvio que não o esqueceste Ana Rita…

-Hã? Pará com isso vá, vamos ver.

Ela riu-se discretamente e voltou a concentrar-se na prova. Quando esta acabou, o Rafa correu para a tenda dos participantes.

-Ele não veio ter connosco. Será que se magoou? – Perguntou a Di.

-Não sei, bora ter com ele. – Disse o Ricardo, e todos se levantaram. – Rita, não vens?

-Não… O Brown não pode entrar, eu fico aqui a ver o resto dos participantes.

-Sim, claro… O Brown… - Disse a Mariza. – Deve ser.

Fiz-lhe uma careta e voltei a concentrar-me no mar. Passou algum tempo e chegaram as meninas, com a Madalena que já estava cheia de saudades do meu cão.

-Então? Estava tudo bem? – Perguntei.

-Ele fez uma ruptura de ligamentos num dedo da mão esquerda, mas está tudo bem. – Respondeu a Mariza.

-Mas foi para o hospital? – Perguntei preocupada.  

-Não, o técnico disse que não era nada de grave, que recuperava sozinho. Só precisa de pôr gelo e uma pomada qualquer. – Disse a Di.

-E tu, sua orgulhosa, custava-te muito teres ido? – Perguntou a Tixa. – Olha que não o vais evitar para sempre, depois disto vamos todos almoçar ali a casa.

-Hã? Eu não posso, tenho de ir…

-Não tens nada. – Interrompeu-me a Tixa. – Vamos todos. Como tu estás sempre a dizer, ele é teu primo, por isso não podes fugir dele para sempre. Filha, larga o Brown! Coitadinho, deixa-o sossegado.

A Madalena estava literalmente montada no Brown, que era um autêntico boneco nas suas mãos. Chegaram ao pé de nós os rapazes, incluindo o Rafael, que vinha com a namorada a dar-lhe beijinhos, e mais beijinhos, e mais beijinhos… Não, eu não estava com ciúmes! Apenas… enjoada. Depois de ficarmos todos nas arcadas a ver as outras provas, a final acabou e anunciaram os vencedores. O Rafael não ficou em primeiro lugar como nos outros anos, mas sim em terceiro. O que não o deixou muito chateado, pois manteve-se descontraído como sempre.
De seguida, tal como a Tixa havia dito, fomos para a sua casa de férias, que era ali perto. Eu e as meninas estávamos a tratar do almoço na cozinha, os rapazes estavam junto á piscina a tratar dos grelhados, a Maddie na sala a fazer penteados e a pôr lacinhos ao Brown, e a Miss simpatia estava a aperfeiçoar o bronze e a mostrar-se junto á piscina.

-Ela precisa de andar assim ao pé do meu marido?! – Embirrou a Tixa ao olhar para o exterior.

Não tinha nenhum biquíni mais reduzido para vestir?!

Nós só nos ríamos, enquanto a Tixa não tirava os olhos do Rui para garantir que ele não olhava para a Mara.

-
Rita, olha o teu irmão! – Disse a Di a rir-se. – Parece entusiasmado.

-Hã?! Ele tem 13 anos!

-Duuh! Por isso mesmo! Olha-me aquelas hormonas a saltitar.

Voltámo-nos a rir ao ver a sua figura, e eu fui até á porta para o jardim.

-Ricardo! – Chamei. – Anda aqui dar uma ajudinha.

-Hãã?! Porquê?

-
Já! – Depois de ver a minha cara que tentava parecer má, veio, contrariado, para a cozinha.

-Então puto? Vá, não fiques chateado, aqui também tens miúdas giras para observar. – Disse a Di ao dar-lhe um leve empurrão.

-Hã? Eu não estava a…

-
Não te preocupes. – Interrompeu a Mariza. – Nós já tivemos a tua idade.

Ele acabou por se rir também, e começou as picardias do costume com a Di. Depois de muita conversa e muitas risadas, o almoço ficou pronto e fomos todos comer junto á piscina.

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