Passei o resto da tarde a arrumar as minhas coisas nos armários e algumas coisas mantiveram-se nas malas, pois não havia espaço para tudo. A tarde transformou-se em noite, e perante a insistência do Brown, fui até á rua para que ele pudesse correr e brincar á vontade. Tirei-lhe a trela que ele odiava, e sentei-me no banco a atirar-lhe a bola de vez em quando. Quando me preparava para voltar para casa, o telemóvel tocou.
-Estou? – Atendi, sentando-me novamente.
-Bom dia! – Disse o Jake com o seu característico tom alegre.
-Amor! Já tens saudades minhas é?
-Não, na verdade tenho saudades do Brown. Podes passar-lhe o telefone?
-Não, ele está demasiado ocupado a roer a bola.
-Que pena.
-Parvo.
-Então mas como correu tudo? Portugal ainda está no mesmo sítio?
-Sim, hoje estive a manhã na praia.
-Hmm. Que bom! Eu só fui uma vez à praia quando estive aí, mas gostei muito. Can you wait a second?! It’s my girlfriend for god’s sake! –Interrompe, dirigindo-se a alguém.
-O que é que foi? – Perguntei, confusa.
-Alice’s here, trying to steal the phone from me.
-Shut up! Let me talk to her! –Ouvi a voz da Alice do outro lado. – Hiiii babe! – Disse entusiasmada quando pegou no telefone.
-Hiii! You know Jake’s gonna kill you, right?
-I don’t care. – Riu-se. – How are you? Oh God I miss you!
-I miss you too honey… You two are at work?
-Yes.
-How is it there?
-Boring, like always. And I still can’t believe that you left me alone with this guy.
-Can you give me the phone, please?! – Diz o Jake, irritado.
-No, she’s mine now! – Respondeu-lhe a Alice, sem lhe passer o telefone. – And how was to come back? How are your parents?
-They were surprised, but very happy.
-Ups! The boss is coming. – Diz apressada.
-Give me that! – Diz o Jake. – Babe, o Arthur vem aí, eu ligo-te mais logo.
-Ok, vão lá antes que ele vos despeça. Beijinho.
-Amo-te. – Disse também apressado e desligando o telefone de seguida.
Levantei-me, e enquanto chamava o Brown para voltarmos para cima, o Rafa passou com o carro, em direcção às traseiras do prédio, onde é o estacionamento. Aguentei-me mais um bocadinho ali, para depois subir com o Ricardo.
-‘Tão maninha? Estás aqui? – Diz o Ricardo quando ambos chegam ao pé de mim.
-Não, estás a ter uma visão. Totó. – Respondi-lhe, despenteando-o.
-Brownie! – Chama o Ricardo, ficando entretido a mandar a bola ao Brown.
-Então e… a tarde, foi boa? – Perguntei ao Rafa, já que estávamos a olhar um para o outro silenciosamente.
-Foi. Aqui o surfista da banheira não largou o mar. – Disse, piscando o olho e dirigindo-se ao meu irmão.
-Olha-me este! O surfista do bidé a falar. – Responde o meu irmão.
-Enfim! Vamos para cima surfistas da casa de banho? – Rematei a conversa e fomos para casa.
Entrar na minha casa e ver o Rafa a entrar na dele ao mesmo tempo, fez me lembrar todos os momentos em que nos despedíamos ali, com beijos e abraços apaixonados, prestes a encarar os nossos pais e fingir que não se passava nada entre nós.
-Adeus, até amanhã. – Disse-lhe, fechando a porta de casa.
Fui ajudar a fazer o jantar, e depois do jantar voltei para o meu quarto, onde passei algumas horas a acabar de arrumar as coisas e a procurar emprego nos jornais e na internet.
-Rita. – Diz a minha mãe ao entrar no quarto. – Nós vamos nos deitar. Ainda vais ficar aí muito tempo?
-Não, também já vou daqui a bocado.
-Vá, não fiques aí muito tempo filha. Até amanhã.
-Boa Noite, até amanhã.
Já me doía a cabeça de estar no computador, e não tinha sono para me ir deitar, por isso coloquei os fones e, de roupa interior, comecei a dançar lentamente R&B. Estava eu de olhos fechados, completamente concentrada na música, e quando abri os olhos, estava o Rafa sentado no parapeito da janela, a observar-me.
-Rafael…! – Tirei os fones rapidamente e comecei a vestir-me.
-Porque é que paraste? – Ri-se. – Estavas tão bem.
-Estou a ver que não perdeste os hábitos de fantasma. – Disse-lhe, continuando a vestir-me.
-Rita... É mesmo preciso estares a vestir-te? Eu conheço o teu corpo melhor que o meu.
-Conhecias… Já não somos nenhuns miúdos Rafael.
-Pois, realmente mudaste em algumas coisas. – Diz, fixando-se no meu peito, e fazendo um sorriso maroto.
-Hã..? PARVO! – Mandei-lhe com uma almofada.
-Olha aí oh, acordas os tios… - Mandou a almofada para cima da cama.
-Tu é que não devias estar aqui. A tua noiva? Não está à tua espera?
-Está. Eu deixei-a na cama, para vir aqui ver-te dançar.
-Então vai ter com ela, que te deves divertir mais do que estar aqui.
-Tu sabes bem que eu estou sozinho, estás com coisas para quê?
-Eu não estou ‘’com coisas’’ Rafael.
-Estás sim. Estás agressiva, e nem me consegues olhar nos olhos.
-Eu estou cansada e vou dormir, tu devias fazer o mesmo. – Comecei a tirar as coisas de cima da cama.
-Estás a ver? Nem consegues falar comigo como deve ser.
-Tu achavas o quê? Que depois de tudo o que se passou tudo seria igual? Que eu conseguia falar contigo da mesma maneira, e fingir que não se passaram 6 anos? Nós não somos as mesmas pessoas, Rafael.
-Porque é que não páras de chamar-me Rafael?
-Porque é o teu nome.
-Tu sempre me chamaste Rafa. Eu sou o mesmo, Rita.
-Tu estás noivo. Tens a tua vida, eu tenho a minha.
-Eu não te estou a perceber. Tu esperavas o quê?! Que eu ficasse à tua espera? Como tu ficaste à minha? Eu voltei para ti! E onde é que tu estavas?! Em Nova Iorque!
-Voltaste para mim?! Depois de ires embora sem te despedir, de passares um ano sem dizer nada? Eu perdi a conta das vezes que eu tentei falar contigo. As únicas noticias que eu tinha eram os meus pais que davam, e eles evitavam tocar no assunto.
- Não percebes que se eu não me despedi de ti foi porque não fui capaz de te ver mal? Eu preferi ir de uma vez, e evitar mais sofrimento.
-Linda maneira que arranjaste de não me fazer sofrer! Eu passei meses a tentar falar contigo.
-Eu preferi esperar que pudéssemos estar juntos. Falar contigo sem poder estar contigo, só ia causar mais saudades. E eu tinha que apoiar o meu pai! Quando o meu pai estivesse bem, aí sim, eu podia pensar em nós! E foi o que eu fiz! Eu voltei logo a seguir ao enterro do meu pai! Só pensava em estar contigo.
-Não vamos falar disto Rafael. Faz parte do passado, não nos adianta de nada. O que interessa é que tu estás bem, e eu estou bem, e somos felizes. Acabou.
-Não, não acabou. Porque tu estás a agir como se a culpa de não termos ficado juntos fosse minha, e não foi.
-Então foi minha, é isso que estás a dizer?
-Sim, é isso que estou a dizer.
-Tudo bem, ganhaste. A culpa foi toda minha. Estás contente?!
-Não.
-Eu espero que sejas muito feliz com a tua noiva.
-Vou ser.
-Ainda Bem. Podes ir agora? Eu gostava de me deitar.
-Eu vou. Só não esperes que eu deseje que sejas muito feliz com o teu namorado.
-Não precisas. Eu já sou.
Ele saiu de seguida, e eu deixei-me cair na cama. Sem saber bem o que estava a sentir, comecei a chorar bastante, sem me conseguir controlar. Estava chateada comigo, por estar assim, mesmo depois deste tempo todo ele ainda me afectava daquela maneira. E isso não podia acontecer. Olhei para o enorme peluche que veio comigo de Nova Iorque, que simbolizava o Jake, e senti-me pior ainda. Sentia que o estava a trair. Mesmo que não tivesse acontecido nada entre nós, na minha cabeça só existia o Rafael.