domingo, 2 de outubro de 2011

Capítulo 29 – Precisas de te distrair!

21:50

-Amor… Vamos para casa. – Disse, levantando-me do seu colo.

-Que horas são? – Espreguiça-se.

-Quase 10. Eles já ligaram umas vinte vezes, e o teu pai não está em condições de se enervar.

-Porque é que não ficamos aqui para sempre? Construímos uma cabana, alimentamo-nos de bananas e peixe que eu apanho com a minha lança, com os nossos 50 filhos a brincar com os tubarões.

-Concordo com tudo, excepto a parte dos tubarões, eu sou uma mãe responsável. Ah, e tínhamos que andar vestidos.

Solta um sorriso e observa-me pensativo, sem dizer nada.

-Porque é que estás a olhar assim para mim? – Perguntei.

-Não é nada. – Levanta-se, envolve os seus braços na minha cintura, e beija-me no pescoço. – Vamos.

-Diz lá oh. – Insisto enquanto caminhávamos para a mota.

-Estava a pensar na mãe galinha que vais ser.

-Que engraçadinho. Olha quem fala.

Chegamos á mota, colocámos os capacetes e fizemo-nos à estrada, de volta a casa.

23:58

Estava deitada na minha cama, sem conseguir dormir, e liguei à Di.

-Sim? – Respondeu ensonada.

-Desculpa… Acordei-te?

-Não, eu ainda não estava a dormir. Que voz é essa? Estás bem?

-Não… Só me apetece fugir daqui e nunca mais voltar.

-Rita… Tem calma. A tua mãe fez alguma coisa, depois de ontem?

-O Rafa vai-se embora Di… - Ainda não me tinha mentalizado do que estava a acontecer, e ouvir esta frase da minha boca custou-me ainda mais.

- Vai-se embora, como?

-Ele vai viver para o Norte com os pais. E descobrimos ontem que o meu tio está muito doente…

-Fogo! Mas não há nada que falte acontecer? Que maré de azar… Mas é grave o que ele tem?

-Sim… Ele tem um cancro, que já está numa fase avançada.

-Que cena… E só agora é que souberam? Eu nem sei o que dizer amiga.

-Não digas nada. Falar contigo já me ajuda.

-Tu tens que pensar que é tudo uma fase, que vai passar, nada é para sempre. E tens que pensar positivo, mesmo que as coisas pareçam muito más.  E o Rafa, como é que está?

-Oh, não está nada bem, mesmo que tente disfarçar.  

-Imagino… Mas eles vão para o Norte por causa da doença do teu tio, ou por causa de vocês os dois?

-Apesar de eu ter a certeza de que é para nos afastar, eles dizem o contrário. Eu sei que estou a ser egoísta, o meu tio entre a vida e a morte e eu estou preocupada por ficar afastada do Rafa…

-Não digas isso. Tu não tens culpa do que está a acontecer, e é normal que não queiras ficar sem ele.

-Desculpa estar a ligar-te a esta hora…

-Achas parvinha? Até podiam ser 4 da manha, podes ligar quando quiseres. E eu dava tudo para não estares assim…

-Eu sei Di… Eu vou ver se consigo dormir… Vemo-nos na escola.

-Descansa.

-Beijnhos, obrigada.

-Rita?

-Sim?

-Bitch.

-Jerk.


04/01/2011

07.00

Acordei. Sentia a minha cabeça pesada, como se tivesse de ressaca mesmo não bebendo. Apetecia-me ficar a vegetar nos próximos 10 anos, sem sair da cama, mas infelizmente não consegui, visto que o meu telemóvel tocou e eu tive de me mexer.

- Estou…? – Atendi.

-Oh Maria Albertina, estás pronta? – Pergunta a Tixa.

- Pronta…? Para quê?

- Vem à janela.

Dirigi-me à janela, que continuava trancada e por isso não a podia abrir. Olhei para baixo, e lá estavam elas, as minhas amigas encontravam-se em frente ao meu prédio, a acenar-me sorridentes.

-O que é que estão aqui a fazer…?

-Não é óbvio? Viemos buscar-te! Despacha-te e desce.

-Está bem, está bem. Vou só tomar um duche rápido e já desço. – Desligo.

Tomei banho, vesti-me, e agarrei na mala. Saí do quarto sem fazer barulho, pois não me apetecia ver os meus pais. Passei no quarto do meu irmão que ainda estava a dormir e pelo barulho que faziam apercebi-me que os meus pais estavam na cozinha. Andei em bicos de pés à medida que tentava passar pela cozinha, sem que eles me vissem. Saí de casa, e posteriormente do prédio.

-Oh suas doidas, o que é que vos deu? Nós só entramos daqui a uma hora. – Perguntei-lhes quando me aproximei.

-Mas quem é que disse á menina que nós vamos para a escola?

-Não vamos? Então vamos para onde? – Perguntei confusa.

-Vamos apanhar o comboio, e vamos passear, para onde ele nos levar. – Explicou a Marisa.

-Exacto. Vamos para qualquer lado, o que interessa é sair daqui. Eu ontem vi que não estavas nada bem. – Confirma a Di.

-Era mesmo disso que eu estava a precisar meninas…

-Nós sabemos. Precisas de te distrair, pensar noutras coisas!

Olhei para a porta do prédio, como se estivesse à espera que o Rafa saísse, ele ainda não tinha ido embora e eu já sentia um enorme vazio dentro de mim. Desviei o olhar, e concentrei-me nas minhas amigas, que estavam a faltar ás aulas por minha causa, para me fazer sentir melhor. Tinha que fazer um esforço, por elas. Olhei em frente, e seguimos numa aventura sem destino.

Sem comentários:

Enviar um comentário