06/07/2017, Quinta.
23:50
-Rita? Estás acordada? – Pergunta a Marisa, deitada na cama do lado.
-Hmmm… Não.
-Eu não consigo dormir. Não consigo parar de pensar no dia de amanhã. Estás preparada? – Levanta-se e senta-se na minha cama.
-Não sei… Passou tanto tempo. Estamos tão habituadas que é estranho irmos embora. - Já tinha despertado, e por isso abri os olhos e sentei-me também.
-Eu não sei se fico triste ou se fico contente. Nós esperámos tanto por voltar a casa e agora parece que esta é a nossa casa. Vamos deixar tanta gente… - Os seus olhos tristes olhavam para cada pormenor do quarto, que já se encontrava quase vazio, com uma certa nostalgia.
-Hey, estás te a esquecer a razão pela qual vamos voltar? Marisca, nós acabámos os nossos cursos, tu cumpriste o teu sonho, formaste-te na Juilliard, uma das mais conceituadas escolas de arte! O nosso esforço valeu a pena, finalmente podemos regressar a Portugal. O nosso objectivo nunca foi ficar aqui.
-Eu sei, e não imaginas as saudades que tenho de casa, mas eu passei os melhores momentos da minha vida aqui contigo e naquela escola onde conheci gente maravilhosa, percebes? Agora que a hora de irmos está tão próxima eu não consigo deixar de pensar nestas coisas.
-Vá lá, pensa positivo, finalmente vais poder ler á noite á vontade sem eu te apagar a luz. E eu vou deixar de comer os teus iogurtes. E o Brown vai deixar de roer os teus sapatos novos. – Ri-me, e ela sem achar graça, abraçou-me.
-Como é que eu vou viver sem ti? Sem a luta de almofadas, sem as maratonas de filmes e pipocas, a quem é que eu vou contar as coisas quando chegar a casa?
-Queres que eu comece a chorar? Pára com essas coisas parvalhona. Nós vamos estar sempre juntas, e se eu vir que não consigo viver sem ti pego no brown e infiltro-me na tua casa.
-Até daquele teu labrador chato eu vou ter saudades. – Olhou para o Brown, que se encontrava a dormir tranquilamente na sua almofada no canto do quarto.
-Ele também gosta muito de ti. Mas não fales assim, até parece que vamos deixar de nos ver. Só não vamos estar na mesma casa, de resto vai ser tudo igual. E vamos finalmente ser as quatro outra vez.
-Pois é, mesmo que falemos com elas todos os dias na Web, eu estou a morrer de saudades.
-Viste a Madalena ontem? Ela está tão grande! E perguntou-me porque é que nós estávamos dentro do computador da mãe. – Ambas nos rimos.
-Então e o Jake? Como é que vocês vão ficar? – Perguntou-me pegando na fotografia do meu namorado que ainda estava por empacotar.
-Ele não pode ir para já, vamos falando na net e por telemóvel. Assim que acabar o curso vai ter comigo.
-Falta muito para acabar?
-Não, uns 2 meses. Passa num instante. Então e tu? Estás preparada para encontrar certas pessoas em Portugal?
-Estás a falar de quem?
-Do Nando, quem é que haveria de ser? Vocês andaram a falar no telemóvel durante estes anos todos, e não me venhas dizer que ele é só amigo porque tu já foste apaixonada por ele que eu sei.
-O Nando sempre foi apaixonado por ti!
-Isso foi antes, depois tornou-se numa grande amizade. E ele sempre perguntou por ti quando falou comigo.
-Por falar em rapazes e paixões… Estás com medo de reencontrar alguém quando voltarmos? – Pergunta pousando a fotografia do Jake.
-Quem?
-Rita… Sabes bem de quem eu estou a falar. E caso não te lembres, a principal razão de tu teres vindo comigo para Nova Iorque.
-Não tenho medo porque não o vou reencontrar, ele está no norte e eu vou estar em Lisboa.
-Como é que sabes que ele ainda não voltou? E vocês são primos, é inevitável o reencontro. Tens que estar preparada.
-Eu estou preparada. Já passou muito tempo, nós éramos umas crianças imaturas sem noção da vida.
-Meu Deus, ia jurar que estava a ouvir o teu pai a falar. Tu odiaste-os por dizerem isso, e agora estás a dar-lhes razão.
-Talvez porque eles tinham realmente razão, a vida nem sempre corre como sonhamos. E eu já não sou uma miúda de 17 anos. Seguimos caminhos diferentes e eu estou muito bem assim.
-Se tu o dizes. Eu só acho que vai ser difícil estares longe do Jake no mesmo momento em que reencontras o teu passado.
-E eu acho que é tarde, e que amanha temos que estar cedo no aeroporto. Vê se dormes. – Dou-lhe um leve beijo na testa.
-Vou tentar. Até amanhã.
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