domingo, 2 de outubro de 2011

Capítulo 34 - Lisboa!!

-Marisca? Acorda. – Tentei acordá-la, mas ela estava demasiado ocupada a dormir profundamente em cima do meu peluche.

-Hmm… -Virou-se para o outro lado.

-Marisca! – Abanei-a. – Olha! – Apontei para a janela que se encontrava ao meu lado, onde já se via a cidade toda iluminada.

-Lisboa!! – Disse ela ao espreitar pela janela. – Não acredito que chegámos. E estamos vivas, sua medricas.

-Ainda não aterrámos, por isso ainda não podes dizer isso. – Rimo-nos. – Depois de 7 horas neste banco, eu quero é andar!

-Que horas são aqui em Lisboa? – Perguntou, e eu olhei para o meu relógio que ainda estava de acordo com o fuso horário de Nova Iorque.

-Lá são 16 horas, por isso aqui deve ser por volta das 21 horas.

O avião começou a descer e a tremer bastante, mesmo assim, não tanto como eu. Finalmente aterrámos e um extremo nervosismo e ansiedade tocou-me no peito. Descemos as escadas e tive uma enorme vontade de me agarrar ao chão, porém, não me pareceu apropriado. Ainda achavam que eu era terrorista ou qualquer coisa do género. Depois de recolhermos as malas e o Brown que estava farto de estar trancado, caminhámos até à entrada do aeroporto. Olhámos em redor, tentando encontrar alguém que estivesse à nossa espera, no entanto não aparecia ninguém e começávamos a achar que se tinham esquecido… Até que, ouvimos um grito esganiçado vindo de trás de nós, do interior do aeroporto.

-ELAS ESTÃO ALI! – Gritou a Di, correndo na nossa direcção.

A Tixa, assim que percebeu que erámos nós acompanhou a Di na corrida e o Rui andava mais devagar, pois tinha a filha a dormir no seu colo. Eu e a Marisa pousámos as malas, preparando-nos para o enorme abraço pelo qual tanto esperámos. Elas alcançaram-nos, e depois de diversos abraços misturados com lágrimas e sorrisos, pegámos nas malas e caminhámos até ao carro do Rui, que já não era o mesmo, tinha agora um Audi preto, de 7 lugares, que deu jeito por sermos muitos, ainda com as malas, e o Brown que estava eufórico por ver tantas pessoas desconhecidas.

No carro:

-A Madalena ainda é mais bonita ao vivo, como é que vocês conseguiram fazer uma coisa destas?

– Perguntei, olhando para a filha da Tixa que estava sentada na cadeira a dormir.

-O mérito é todo meu. – Diz o Rui a rir-se.

-Hã? Vê-se logo que ela é a minha cara! Mas a minha princesa é linda não é?

-Na Web já víamos que era linda, mas é ainda mais fofinha. – Diz a Mariza também a olhar para ela.

-Eu ainda nem acredito que vocês voltaram. E nem pensem que se voltam a ir embora!! Ouviram? – Diz a Di do banco de trás.

-Ah pois é, e enquanto estivermos em minha casa vão nos contar tudo, tudo! – Disse a Tixa entusiasmada.

-Vamos para tua casa? – Perguntei.

-É claro! Eu preparei um petisco maravilhoso, uma das minhas especialidades. - Ficámos de boca aberta a olhar para ela.

-Hãã… - Começou a Mariza.  – A última vez que estivemos todas juntas e tu tocaste no fogão não correu assim muito bem.

-Alguém tem aí o número da pizzaria? – Perguntei e todas nos rimos.

-Ok, pronto, foi o Rui que fez. Mas eu ajudei. – Confessou a Tixa.

-Sim, ela ficou a tomar conta do comer durante 5 minutos e ia pegando fogo à casa. – Diz o Rui divertido, mas ainda assim concentrado na estrada.

-Obrigadinha amor. – Lançou-lhe um olhar assassino, ao qual o Rui respondeu com um sorriso. - Oh, culinária não é um dos meus talentos.

-É verdade Marisca, os teus pais? – Perguntei-lhe.

-Eles foram numa viagem de trabalho, não puderam estar no aeroporto. Voltam amanhã de manhã. Como é que tem estado toda a gente meninas?

-Esse ‘’toda a gente’’ chama-se Fernando? – Pergunta a Di e todas olhámos umas para as outras de forma cúmplice.

-Lá estão vocês! Eu estava a perguntar no geral…

-Ele está bem. – Respondeu a Tixa. – Solteiro, e muito jeitoso.

-Jeitoso?! Então? Vamos lá ver a conversa. – Implicou o Rui, ciumento.

-Não tanto como tu meu jeitoso. – Inclinou-se e deu um beijo ao namorado. – Mas como eu estava a dizer, ele está bem, nós estamos com ele de vez em quando, e ainda no outro dia fomos ver uma prova de MotoCross em que ele ficou em 2º lugar.

-Que bom, ele merece. – Disse eu. – Então e tu Di? Tu e o Miguel continuaram amigos depois de acabarem?

-Sim, claro. – Respondeu. – Foi ele que ganhou a prova do outro dia.

Chegámos a casa da Tixa e do Rui. Este foi deitar a menina e depois veio para a sala, juntar-se a nós que estávamos a pôr a conversa em dia.

-Quer dizer que não disseste á tua família que vinhas hoje?! Eles não sabem que estás aqui? – Perguntou-me a Diana.

-Não, quero fazer uma surpresa.

-Então mas conta lá como é que tu e o John se conheceram?

-É Jake. – Corrigi. – Foi no café onde trabalhei, o Jake tal como eu, trabalhava lá ao mesmo tempo que estudava. Nós ficámos amigos, e á um ano começámos a namorar. Foi lá também que conheci a Alice, aquela rapariga que vos falei.  

-E estás feliz com ele? – Perguntou a Di.

-Sim. Claro que sim.

-Rui, eu acho que ouvi a menina, podes ir lá ver amor? – Disse a Tixa fazendo-lhe um olhar como que para nos deixar a sós.

-Eu vou lá ver. – Saiu.

-Tixa, eu não ouvi nada. – Disse-lhe confusa.

-Eu sei, mas ele é o melhor amigo do Rafa, estamos mais á vontade para falar sobre isto se ele não estiver aqui. Ainda bem que estás feliz, assim não ficas afectada com o reencontro.

-Reencontro…? Isso quer dizer que ele está cá? – Respirei fundo.

-Nós pensávamos que sabias… Afinal, ele é teu primo.

-Não, não sabia. Eu sempre que falei com os meus pais nunca fiz perguntas, e eles também evitavam tocar nesse assunto. Mas ele voltou á muito tempo?

-Voltou a seguir à morte do teu tio, um ano depois de tu ires embora. Rita… De certeza que é passado?

-Sim, mas porque é que toda a gente me pergunta isso?

-Porque nós sabemos da vossa história! E agora que voltaste as coisas podem mudar. – Disse a Tixa. – E…

-E, o quê? – Perguntei.

-E, ele está noivo! Pronto, já sabes. – Completou a Diana.

-Que bom para ele, ainda bem que está feliz. – Respondi, depois de alguns segundos de silêncio.

-Não finjas que não queres saber Rita. – Interferiu a Marisa. - Ela passou estes anos todos com uma fotografia dele debaixo da almofada, e andou sempre com a pulseira na mala. Não acreditem no que ela está a dizer.

-Hey!! Que conspiração é esta? Eu amo o meu namorado! E eu estou muito feliz. Quero mais é que o Rafael case e tenha muitos filhos. E podemos mudar de assunto? A Marisca tem montes de novidades da Juilliard, não tens Marisa?

-Tu és muito esperta! Tenho sim. Querem saber?

-Sim, claro! – Dizem as duas.

Depois de muitas horas de conversa e de matar um pouco das saudades, era já muito tarde, e preparámo-nos para ir para casa.

01:16

-De certeza que não querem dormir cá esta noite? Já é tarde. Iam para casa de manhã. – Sugere a Tixa.

-Não, nós vamos para casa, é melhor. – Disse eu.

-Tu vais matar os teus pais de susto se apareceres lá em casa a esta hora. Eles ainda acham que és um assaltante.

-Eu entro, vou-me deitar e eles nem dão por nada.

-Se levares com uma frigideira em cima depois não te queixes! – Rimo-nos.

-Vá, então eu levo-vos. – Disse a Diana.  

-Vamos. Beijinhos malta. – Disse a Marisa ao pegar nas malas, guitarra, e no meu peluche que ainda não tinha largado desde que o utilizou como almofada.

-Então adeus meninas. E vocês as três amanhã liguem que vamos á praia! – Disse a Tixa à porta de sua casa.

-Está bem! – Dissemos já na rua.

-Brown, anda lindo. – Chamei, e ele veio satisfeito, provavelmente a pensar que iríamos voltar a casa.

A Diana deixou cada uma de nós em sua casa, e eu fui a primeira, pois estava mais perto. Ali estava eu, de volta à minha rua, em frente ao meu prédio, porque será que continuava a pensar ‘’minha’’ rua e ‘’meu’’ prédio? Aquela não era a minha casa á 6 anos. A verdade é que pouco ou nada mudara desde a última vez que lá tinha estado. Estava um silêncio extremo na rua, a noite estava serrada e a iluminação era pouca. Depois de uns breves segundos a observar tudo o que me rodeava, peguei na bagagem e dei o primeiro passo em direcção á porta do prédio. Já estava a abrir a porta, quando olho para trás e vejo que o Brown se encontrava sentado a uns metros da porta.

-Brown, anda. – Chamei e este manteve-se sentado e quieto a olhar para mim. – Brownie, vá lá, anda. – Por mais que o chamasse, ele não se mexia, permanecia sentado onde a Di nos deixara. Chamei-o mais uma vez e desta vez ele levantou-se, ladrou bem alto, caminhou para a direcção contrária e depois voltou atrás para ver se eu ia com ele. Eu sabia o que me estava a tentar dizer, ele tentava explicar-me que aquela não era a nossa casa, e que eu estava enganada. Meti as malas dentro do prédio e voltei atrás, coloquei-me de joelhos para estar ao seu nível, e fui fazendo-lhe festinhas á medida que falava com ele.

-Eu sei que queres ir para casa, lindo. Mas esta vai ser a nossa casa, pelo menos por enquanto. Mas para isso eu preciso que me ajudes, e que entres, eu prometo que vais gostar de estar aqui. – Dei-lhe um beijinho e levantei-me. Andei para a frente, tirei a sua bola amarela de uma das malas, e ele ao ver a bola veio imediatamente ter comigo, entrando no prédio de seguida.

Quando entrei em casa estava toda a gente a dormir. Fui ao quarto do meu irmão e observei-o enquanto dormia. Estava realmente crescido. Foi a pessoa com quem eu falava mais regularmente e a qual me custou mais estar afastada. Passou de uma criança de 7 anos para um pré-adolescente de 13. Só me apetecia acordá-lo e dizer-lhe que estava de volta, mas resisti e saí do quarto. Depois de espreitar os meus pais que também dormiam profundamente abri a porta do meu quarto e levei todas as malas para lá. O quarto mantinha-se como o havia deixado, fiz a cama e deitei-me. Estava com dificuldade em adormecer e o Brownie deitou-se ao meu lado, com a cabeça pousada na minha barriga. Sem saber o que fazer para conseguir dormir, abri a mala com todas as fotografias que tirei em Nova Iorque e comecei a ver uma a uma.

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